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A Família Travi

Atualizado: há 6 dias

Vitor Hugo com os filhos Bruna e João Pedro
Vitor Hugo com os filhos Bruna e João Pedro

Texto de Vitor Hugo Travi


A vinda da família Travi para Canela se deu através do meu avô, Basílio Travi, na época um madeireiro que explorava os pinhais nativos que eram abundantes na região. Isto foi na década de 1920 e ele acabou fixando residência na então incipiente cidade, após explorar a região e as suas riquezas. Aqui, juntamente com minha avó Luiza, tiveram e criaram seus seis filhos e cinco filhas, sempre atrelados às atividades ligadas à extração da araucária e seu beneficiamento. Basílio Travi faleceu de forma precoce, em 1946, aos 60 anos.


Meu pai, Fortunato Travi, era madeireiro e comerciante. Casou-se com minha mãe Lourdes Urbani Travi, filha de Ernesto e Otília Urbani, que tinham uma oficina de conserto de locomóveis. Eu nasci em 1951 e com 16 anos fui, com toda a família, para Porto Alegre, onde meu pai abriu uma madeireira. Me formei em Biologia na PUC-RS, e na UFRGS me tornei Mestre em Ecologia.


Em 1989 tomei uma decisão arrojada: retornei para Canela por sentir que necessitava da minha terra natal, queria viver e trabalhar aqui e devolver a ela, na forma de trabalho educativo e de conscientização, o que tanto lhe fora tirado pelos meus ancestrais. Assim larguei um bom emprego de professor de Biologia na PUC e vim com minha família – esposa, na época, e nossos dois filhos que aqui cresceram, frequentaram escolas locais e se formaram: minha filha Bruna em veterinária, e meu filho João Pedro em Biologia.


Vim abrir mercado de trabalho aqui e comecei fazendo o que mais gosto e sei: levar pessoas interessadas a lugares de grande beleza natural e interpretar a natureza que se apresentava. Criei assim os Passeios Ecológicos onde eu orientava grupos na região dos Aparados da Serra e falava sobre as belezas raras e ainda preservadas da natureza do local, mas o mercado era muito incipiente, restrito e difícil, havendo poucos que davam valor a este tipo de atividade.


Foi então que, em 1992, vislumbrei a possibilidade de desenvolver um projeto ecológico no Parque do Caracol e, após gestões, reuniões, apoios  políticos e ajustes, nasceu o Projeto Loboguará, dedicado a Educação Ambiental, visando oferecer a informação sobre o ambiente natural para os visitantes do Parque. Ali criamos o inédito Centro de Intepretação Ambiental na casa que foi da Família Nunes, e que passou a pertencer ao Parque quando ele foi criado. Os visitantes passaram a contar com um local de informação permanente e com profissionais biólogos durante 7 dias por semana, 365 dias do ano, onde desfrutavam de informações sobre a fauna, flora, geologia, geografia e história da região.


Foram 15 anos dedicados a causa e que elevaram a qualidade da visitação dos turistas e de milhares de estudantes de todo o estado que para aqui acorriam em busca de cursos orientados oferecidos no Parque. Trilhas autoguiadas com placas de identificação de mais de cinquentas espécies de árvores, mirantes e placas de interpretação da paisagem estavam por todo o Parque durante este período, satisfazendo a curiosidade dos visitantes e aumentado o seu conhecimento sobre nossa natureza, o que resultava sempre num maior respeito pelo elemento natural. Não se preserva o que não se conhece.


Interrompidos os trabalhos no Parque do Caracol, por desinteresse da administração pública da época, o projeto Loboguará seguiu com seu lema de despertar nas crianças e adolescentes o gosto e o respeito pela natureza, atuando em outros parques e municípios da região sendo que até hoje, com quase trinta anos de ações ininterruptas, constitui-se num programa pioneiro no Rio Grande do Sul em termos de ensino prático de Educação Ambiental e Ecologia.


Os descendentes

Atualmente, meu filho João Pedro administra o Projeto Loboguará e segue no nosso principal objetivo de conscientização da importância de conhecer e preservar o meio em que vivemos. Minha filha Bruna se especializou em fisioterapia de pequenos animais e anda “arrumando” cães e gatos por toda a região.


Como neto e filho de madeireiros por um lado, e neto de um mecânico de locomóveis que não deixava as serrarias pararem de cortar araucárias por outro, acredito que meu papel, juntamente com meu filho, de implantar e manter um programa de educação ambiental inédito trabalhando muito nas matas de araucária remanescentes, redimiu um pouco o tanto que fizeram meus tios-avôs.


Do lado dos Urbani, o tempo e a rarefação das araucárias fizeram com que mudassem de ramo, e atualmente deixaram um belo legado turístico e educativo chamado Mundo a Vapor, onde os locomóveis em miniatura e em tamanho natural são um dos principais destaques. Não condeno, de forma alguma, meus ancestrais que tanto lutaram para manterem suas famílias numerosas e, como pioneiros, não vislumbraram outra alternativa a não ser explorar a então exuberante e abundante floresta de araucárias.


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