A Casa Auxiliadora

O Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora

A história do edifício conhecido hoje como Casa Auxiliadora começou a ser escrita em 1945, quando o então pároco de Canela, Cônego João Marchesi, idealizou a construção de um grande colégio no coração da cidade. No terreno onde antes funcionava a Casa Paroquial, iniciaram-se as escavações e terraplanagens que dariam forma ao prédio do futuro Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora.

A construção foi viabilizada com doações da comunidade, que se mobilizou em campanhas e eventos beneficentes para levantar os recursos necessários. O envolvimento popular refletia o sentimento coletivo de urgência em ver a escola concluída, como um símbolo de progresso e educação para Canela.

Projetado com três andares, o edifício tornou-se a maior construção da cidade na época. No andar superior ficavam os dormitórios das internas e a clausura das Irmãs Bernardinas, com uma pequena capela. O segundo piso concentrava as salas de aula, secretaria e banheiros, com janelas amplas e um corredor central revestido por elegantes ladrilhos de madeira. Já o térreo, que inicialmente abrigou a marcenaria responsável pelas esquadrias da obra, foi posteriormente transformado em salão de eventos, usado para festas, reuniões e atividades escolares.

Inaugurado em 3 de agosto de 1952, o Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora teve papel fundamental na formação de gerações de canelenses. No entanto, em 3 de dezembro de 1975, o anúncio inesperado de seu fechamento pegou a comunidade de surpresa. A decisão, tomada devido ao déficit acumulado nos últimos anos, teve aprovação do Arcebispo Dom Vicente Scherer.

Os alunos remanescentes foram transferidos para outras escolas, e o prédio passou a ser utilizado para retiros espirituais, cursilhos, encontros de jovens e eventos religiosos. Com o passar dos anos, o prédio foi perdendo vitalidade, e sinais de desgaste começaram a se tornar visíveis, ainda que sua presença seguisse marcante na memória e no cotidiano da cidade.

A Casa Auxiliadora

Rafael Zilio e Patrícia Picoli, idealizadores do projeto

Em 2014, o casal canelense Rafael Zilio e Patrícia Picoli adquiriu o prédio da Mitra da Diocese de Novo Hamburgo, dando início a um projeto de revitalização voltado à preservação de sua identidade histórica. O projeto arquitetônico ficou a cargo de Rafael Pazetto, enquanto a execução da obra ficou sob responsabilidade do engenheiro Sandro Bazzan. A proposta era devolver vitalidade ao edifício, respeitando seus traços originais e ressignificando seus espaços.

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

A reabertura oficial do edifício ocorreu em 2018, marcando o nascimento da Casa Auxiliadora. Nesta primeira etapa do projeto, o térreo foi completamente revitalizado e passou a abrigar lojas como chocolateria, mercearia e confeitaria. Todo o processo foi conduzido com cuidado para preservar os elementos originais da construção, como a fachada, os ladrilhos hidráulicos e as esquadrias em madeira, respeitando a identidade arquitetônica do antigo colégio.

Nos anos seguintes, o projeto avançou para os andares superiores, que passaram por uma ampla restauração. A madeira em araucária foi cuidadosamente reaproveitada, assim como pisos, escadas e tijolos antigos, integrados de forma harmoniosa à nova proposta. Onde antes funcionavam salas de aula e dormitórios, foram criadas acomodações modernas, dando origem ao Mater Hotel, inaugurado em 2024, mantendo viva a memória do edifício em diálogo com a contemporaneidade.

Com 24 unidades distribuídas entre suítes, apartamentos e estúdios, o hotel alia conforto e design contemporâneo a elementos históricos. Fotografias antigas decoram os corredores e ajudam a contar a trajetória do prédio, relembrando os tempos de colégio e criando uma ponte afetiva com o passado.

Hoje, a Casa Auxiliadora é mais que um hotel: é um testemunho da força da comunidade, da importância da preservação e da capacidade de transformar um patrimônio do passado em um espaço de convivência, beleza e hospitalidade no presente.